Alto
isto é um assalto
depois abri a gaveta
dei-lhe todo o apuro do dia
chamaram-me nomes que não
posso aqui reproduzir porque se
encontram aqui senhoras e eu olhava
ora para os olhos da espingarda de canos
serrados ora para os olhos de sanguinário
do bandido interlocutor que se viam como bichos
nervosos por debaixo do passa-montanhas a seguir
pediu-me o segredo do cofre e eu disse-lhe em segredo
que não sabia foi então que me deram uma coronhada
na cabeça como se vê nos filmes ninguém me mandou
armar-me em herói e desde aí não me lembro de mais nada
nem sinais particulares só uma poça de sangue e o couro cabeludo
empastado um assalto é um assalto e eu fui apenas mais uma vítima
destes mundo cada vez mais violento e para o que me deu reagir calmamente
em forma de verso branco a três esqueléticos e desgraçados toxicodependentes
que conseguiram o magro pecúlio de setenta e cinco euros e na sua infinita misericórdia
me pouparam a vida de marçano.
Lisboa, 19 de Março de 2014
Carlos Vieira