segunda-feira, 15 de julho de 2013

Guerra civil II (continuação)


a mancha de óleo
que alastra perigosamente
em velocidade excessiva
na curva  dos sonhos
que se desvanecem
na berma da estrada
de pernas para o ar
na neblina da madrugada

Lisboa, 15 de Julho de 2013

Carlos Vieira

domingo, 14 de julho de 2013

Viagem quase de circum-navegação



O gume da lâmina de sol e sal breve
sulcando um suave vislumbre
o ardil do olhar antes do teu rosto
enunciado pelo rumor da penumbra
o perfume nos seus ombros de coral
no rastilho subtil de um murmúrio
que se soergue a partir do eloquente
guinar das tuas coxas vibrantes
ávidas de silêncio e de luz submersa
de unhas que vão rasgando na pele
o frémito e demência doutros rumos
no gume da quilha indomável o desejo
separando a carne unindo os mundos.

Lisboa, 14 de Julho de 2013

Carlos Vieira


Um prego...



Um prego,

desde quando 

ali está pendurado

o imenso nada do muro branco?

Nervos de aço

na última fronteira.


Lisboa, 13 de Julho de 2013
Carlos Vieira









sábado, 13 de julho de 2013

❤ Dolores Duran - A Noite do Meu Bem -


Gente de palavras


Gente de palavras


Lugares inóspitos

das palavras elementares

que em tronco nu

se esgueiram pela sombra

ao encontro do silêncio veemente

longe dos olhares

palavras com gente

que no leito do rio ancestral

se banham tímidas e invulgares

desprezados deuses

de qualquer jeito.  

Lisboa, 13 de Julho de 2013

Carlos Vieira

Breve referência aos heróis insones e desconhecidos


 

Por vezes regresso

a esses locais

para onde nos convoca

a insónia

e o desconhecimento

dos mortos

esses heróicos vencedores

de todos os espelhos

onde resistem cicatrizes

na carne e no estanho

perdido por esses caminhos

que nos levam

de novo

aos campos de batalha

que não nos pertenciam

e no entanto

dali saímos vexados

estropiados por vezes

arrastando a derrota das ideias

de uma outra humanidade

vergados à ignomínia

campos de batalha

onde regressamos

apenas para abraçar

esses antepassados da morte inútil

fantasmas das nossas vidas

que erram sonâmbulos

pelas nossas casas vazias de sonhos

tão semelhantes

na nossa condição

ao aproximar-nos apagam-se

e ainda se ouvem murmurar

que não podemos continuar a viver

morrendo em vão

durante o sono.

 

Lisboa, 13 de Julho de 2013

Carlos Vieira



 "Insomnia" por George Grie

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Não sou ninguém porque sou todo o mundo


Sou de cada interstício
o ânimo 
de todos os lugares
sei do despertar
de todas as esquinas
das ciladas tecidas
articuladas nos ângulos mortos
e estive
no suor e no sangue
na confluência de tempos
fui um golpe de asa
de onde partiu
o início da ponte
debaixo da qual
correram as águas mais turvas
e os segredos mais inocentes
suportando sonhos largos
assombrados
por vinganças
e vigiados
pela melancolia
das tardes de Verão
pelas palavras
despojadas
no rumor
da cal mediterrânica
não me reconheces
mas sou eu ninguém
que descanso
por fim
no rumo feliz 
das tuas omoplatas
e aí sou o mundo todo.

Lisboa, 12 de Julho de 2013
Carlos Vieira

Imagem de autor desconhecido