“A lenda diz que quando não consegues dormir de noite é
porque estás acordado no sonho de alguém”
Olho para ti
enquanto dormes
aguardo que na doçura
da tua voz
haja um novo
princípio do mundo
uma nova esperança
eis-me aqui
na tua história
de bela adormecida
peixe lúbrico
que nada e respira
nos teus lábios
no leito dos teus sonhos
apenas para te ver dormir
acordo sempre
mais cedo
a seguir
olho por ti
ora descubro a graça subtil
ora sou vencido
pelo deslumbramento
agora
já posso ir à minha vida
ou à mina morte
ali estás
na ilusão de me estares entregue
no entanto
ainda erras pela manhã
pelas veredas
a caminho da poesia exacta
que exulta
pelo fim da noite
não sei por onde andas
contudo
ali estás disponível
como se fosses
uma onda de mar
que veio comigo
para casa
e a qualquer momento
me submerge
ou me leva a navegar
mesmo quando dormes
sabes
que estou à tua espera
como uma árvore
grávida de pássaros
à janela
de uma qualquer primavera
de um sonho acordado.
Lisboa, 14 de Abril de 2013
Carlos Vieira