I
Escadas
são as asas do homem para chegar ao céu
ao centro da terra
do sonho
a lado nenhum
às nuvens de um pesadelo
que cresce
dentro de nós
degraus da sede
num poço de amor
e de noite
para onde se desce.
II
Hoje não subi pelo elevador
ataúde da nossa morte vertical
preciso de fazer mais exercício
ataquei as escadas de serviço
pirâmide ou sepulcro de betão
sinto aqui a claustrofobia da vida
que sobrevive à minha asma
avessa ao esforço anaeróbico
muito mais morto do que vivo
ao chegar a casa ressuscitei
no aroma doce da caldeirada
recuperado da vida afogueada
pronto para o próximo desafio
escolherei a escada de incêndio.
Lisboa, 11 de Abril de 2013