Tendo em vista com que lucidez e coerência lógica certos loucos justificam , a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez"
Livro do Desassossego - Fernando Pessoa
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
terça-feira, 14 de agosto de 2012
reencontro
eu estou de pé
depois da urze dourada
o teu corpo macio
está de bruços
é uma romã inquieta
pendurada na penumbra
nós estamos nus
como os astros inacessíveis
e a beleza dos números
tu és a gazela desconfiada
imediatamente antes do prado
que não resiste à tentação
de poder regressar
trazes a inesquecível ironia
do teu sorriso tangente
a esculpir
os teus lábios perfeitos
fulgindo no olhar
que já foi triste
o teu desejo ouço-o
arqueando as tuas vértebras
no frémito do vento
és neste odor que dança
e que libertas
que me prendes ao sul
dos teus abraços
gume de palavra
nunca esquecida
na minha boca ferida
desliza a enrolar-se
nos pensamentos
que me traem
e a que me entrego
que serão afinal
na foice do desespero
a tua linha de fuga
Lisboa, 14 de Agosto de 2012
Carlos Vieira
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Crime sem castigo
na geografia de cristal
há a subtil intercepção
de um tempo sem razão
há a sombra do punhal
na vertigem silenciosa
no itinerário das árvores
é pura a voz estrangulada
e na sinfonia dos pássaros
não escorrem as lágrimas
que se sabem mais íntimas
de um olhar perturbado
ou próximas das estrelas
pelo vidro embaciado
da solidão das janelas
a testemunha protegida
observa o lento escorrer
do sangue e apodrecer
do cadáver e da sua vida
apaga o rosto do assassino
a astúcia montada da teia
no peito tudo fica gravado
num depoimento cristalino
pelo periscópio da lua cheia
Lisboa, 13 de Agosto de 2012
Carlos Vieira
domingo, 12 de agosto de 2012
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