domingo, 1 de julho de 2012
emboscado na realidade
esta pura armadilha
este logro em que vivo
da suavidade das palavras
em que permaneço
fechado no que te ouvi
percorro o istmo
perpendicular ao sonho
habitado pelos vultos
dos furtivos animais
que te guardam
bêbedos de luz
estás nesta distância
incalculável
de uma manhã de nevoeiro
onde a tua presença
em tudo o que toco
se desfaz e se desdiz
eis-me aqui que só existo
nesta farsa de habitar
a ausência de ti
entranhada do teu silêncio
a cela da realidade
eterna busca
no lapso do tempo
que te esconde
de recriar a doce ilusão
e o mistério da tua casa
e do teu sossego
escrevo na parede as janelas dos dias
como quem pinta uma natureza morta
incorrendo no falso erro de perspectiva
de ludibriar as trevas
surpreendo algures na paisagem
a fosforescência do teu olhar
no selvagem coração da noite
escondo-me do seu fascínio
e estendo a pura armadilha
fulgurante das palavras
Lisboa, 1 de Julho de 2012
Carlos Vieira
“Pardon” por Macha Volodina-Winterstein
sábado, 30 de junho de 2012
a palavra desconhecida
a haste da palavra
curvava-se sobre um rio imaginário
numa paciência de cana de pesca
sobre o século
onde a corrente
de olhos semicerrados
prossegue exausta e indiferente
manuseando o seu realejo de água
onde aflora a memória em remoinho
da nudez dos corpos jovens
o reflexo dos peixes
e a fragrância de margens
a destoar
apenas a sombra ténue
do rouxinol que tinha sido devorado
pelo salgueiro
isso foi suficiente
para que a palavra se desprendesse
e flutuando levada pela corrente
precipitou-se no açude
sem dizer nada
Lisboa, 30 de Junho de 2012
Carlos Vieira
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)