sábado, 9 de junho de 2012

Amores de Verão


I


eis o verão

que bate à minha porta

já não me interessa

que mude a estação

que chova torrencialmente

que troveje

e aluam os caminhos

e os relâmpagos iluminem o nada

sem ti

apenas se revelam

as ruínas do mundo



lisboa, 9 de Junho de 2012

Carlos Vieira



                                      Delacroix Prints – “Greece on the Ruins of Missolonghi”

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sailor's Chorus - Richard Wagner, The Flying Dutchman

Helen Forrest The Man I Love

Dead Combo & Camané - "Ouvi o texto muito ao longe*" (Lisboa Mulata)

Marilyn Monroe - Gloomy Sunday ( The Bert Stern Archives )

Apátrida





os teus dedos

a tiritar

são afluentes do silêncio

corvos pousados algures

num antigo nevoeiro



e depois do adeus

sem olhar para trás

as  palavras que te conhecia

abandonam-me uma a uma



perdi-te

agora resta-me este exílio

de colher as flores e os frutos

sem partilha  

sem te encontrar à esquina

sem largos de coração aberto

e mãos de sol e a luz dos sorriso

iluminando o teu rosto

sem a alegria breve

dos teus gestos mansos

sem fronteiras



agora

não tenho pressa

ou essa pátria de chegar a casa

de sentar à mesa

e de te olhar

depois da eloquência do pão

agora perdi o fio da história



sou atónito

perante o silêncio das ruas

em que te conheciam pelo nome

passas friamente pela berma do olhar

temes o confronto

escondeste-te de todas as  tempestades

tu que sempre foste temerária

e colhias as estrelas

e fazias delas os beijos

que conheciam os céus e os abismos



sou apátrida

neste novo país em que vivo

sem ti

de onde não saímos

desta vergonha

do que somos

em viagem



agora

somos desta imensa tristeza

que acorre num só olhar

ancorado em tanto desalento e medo

de tanta ruína e pedra solta no caminho

de tanta separação

e não querer chegar

eis-nos aqui mais sós

e menos independentes.



Lisboa, 7 de Junho de 2012

Carlos Vieira






terça-feira, 5 de junho de 2012

Poema para um emigrante



Não sei como foi que aqui chegou

E tendo chegado já partiu

Sabendo o que ganhou

Não sei o que perdeu

Para onde foi

O que encontrou à sua espera

Não sabe quem estará aqui

Nem será aquilo que prometeu

E se um dia regressar

Não será mais ele

Aquele que na dor viram partir

Ainda menos aquele

Porque anseiam

Na esperança do reencontro

E neste deambular

Nesta errância

Estando tão presente

Cegos estarão todos

Quando chegar

De tocarem a sua ausência

Abraçando o país deserto.



Lisboa, 5 de Junho de 2012

Carlos Vieira


                                “O português/ O emigrante” – Georges Braque