fixo-te no verdete que contorna o prumo do silêncio
e abres os braços pela doce asfixia no fumo do tempo
da lâmina exacta de um olhar que ludibria pelo bailado
sei do teu regresso e desespero num abraço de afogado
escuto os teus passos a emergir nos degraus do lago
escorre fulgente pelos teus cabelos dos peixes a prata
uma estrela amadurece nos teus olhos o fruto do afago
gravas o teu caminho em fogo brando mulher ingrata
na linha do horizonte perscruto o teu gesto curvo de lua
e sob os teus ombros proclama-se a espuma das marés
no estuário dos astros o murmúrio de ondas vendo-te nua
depois existe o degelo das palavras que descem das montanhas
um guerrilheiro sai da gruta e encadeado na luz cai a teus
pés
olhas o céu e contorcidas de raiva tuas mãos desvendam
amanhãs
Lisboa, 26 de Maio de 2012
Carlos Vieira
Escultura de “Mulher Sonhando”