terça-feira, 15 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Post-it’s
não te esqueças
de fechares a janela
gostava de ver-te espreguiçar
sobre aquela invasão do canto dos grilos
e o omnipresente perfume das nêsperas
de permeio
podes proclamar breves palavras
e elas serão para mim
a senha e contra senha de acesso ao infinito
do teu corpo e alma
de onde nunca saí
não te esqueças
se a brisa soprar fica quieta
para que te possa vislumbrar
nos teus cabelos compridos
e sobrevoar o claro escuro
dos teus ombros nus
ou será do teu pescoço?
sempre tive medo das alturas
tu és o peso exacto
neste instável equilíbrio
das nuvens
do pensamento
onde sobrevivo
com raiz no teu olhar
só me interessa a tua plenitude
não te esqueças
que os gatos devem ficar na rua
e os deuses também
pendurados nas árvores do jardim
a espreitarem os lagos
nessa aprendizagem difícil e nocturna
do convívio com os pássaros e os peixes
permitindo que te possa de novo ver acordar
cuidando que o teu esplendor
seja maior que a madrugada
não te esqueças
toma um banho de imersão
e toca piano
cuidado não te vás afogar
naquele sonhado andamento
onde nos deixámos
ou te falte o ar
numa bolha de solidão
e tu seja apenas
a cor que me perde
a espraiar-se morena
no território da tua pele
vencendo a água
libertando-se do vapor
e da carne
não te esqueças
deixa a luz da varanda acesa
para que os insectos e as feras
sofram do desespero da tua ausência
e te abandonem definitivamente
e tu fiques ali
pairando
sem nunca te entregares
sem nunca seres só pra mim
não te esqueças
podes ler umas tantas páginas de um clássico
e depois põe aquele sorriso ténue
de olhar distante
saberei do perfume dos teus dedos
virando a página
nas entrelinhas eu vou escrever
secretamente
outro alinhamento para o espaço
do amor possível
não te esqueças
despe a tua camisa de dormir pérola
com motivos chineses
como se fossem folhas de cerejeira
e se te olhares ao espelho
eu ficarei de novo cego
entre a nudez espelhada e a outra
sem saber qual a diferença
a fronteira
sem saber se tu existes
sem ouvir o que se diz
o amor sempre desvanece
na coisa amada
não há país real
Lisboa, 14 de Maio de 2012
Carlos Vieira
domingo, 13 de maio de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
Fragmentos de desejo
pressinto
nos meus lábios
o teu corpo a levitar
perde-se na boca
a frase inacabada
do espanto
nasces de novo para mim
após amansar o vento
és uma memória que me morde
oiço o animal
oiço cada partícula
em que eras porcelana
e a frescura do afago
atravessas o sabor
da longa espera
que é a queda do fruto
na frágil verdura da erva
na tua nudez imaculada
ali se oculta o apelo
se acende o perplexo aroma
incrédulo escorre o sumo
sobre a lâmina
num fulgor de silício
espeto até ao mais fundo
o gume do silêncio
até se soltar um grito
na alforria que te concedo
dentro de mim
dentro de nós
o desejo que adormece
é um punhal saciado
Lisboa, 12 de Maio de 2012
Carlos Vieira
“Fragmentos de Sandra Berube” por Patrick Rochon
sexta-feira, 11 de maio de 2012
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