Morreu ontem Ben Gazzara(1930-2012), um actor com estilo e atitude.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Nós e amarrações
I
Nó
flor de cordel
de onde se desprende
a voz
felina
feroz
por dentro da pele
e da raiz dos pulsos
cicatriz
de novo aberta
de novo alerta
neste papel
de nós
II
nó
palavra
que penso
que presa
na garganta
fica só
e pensam
que posta a pão e água
ficarás à solta
que darás a volta
e deixarás de ser
palavra
e de ser
nó
III
nó
a nó
se desfaz
o longe
e o perto
e a sua paz
dão-te mais corda
dando-te o deserto
dão um ponto
sem nó
apertam agora
de mão firme
muito seguros
de si mesmo
não o irão largar
vão escovar-lhe
o ego
e de olhos bem abertos
ficará à sua espera
o nó cego
IV
Nó
é um silêncio
que se desata no teu rosto
que se desenrola
no teu gesto sereno
é o laço
feito dessa fibra apaixonada
de um abraço
que tece estrelas
na noite do teu regaço
e desce outra vez pela corda
à tua gruta perfumada
à minha sede
e desprendida
voltas a voar
sem rede
sem balanço
sem nós
num baloiço
cabisbaixo
neste jardim
que deixou de ser
de nós
Lisboa, 2 de Fevereiro de 2012
Carlos Vieira
A mão escorrega na fímbria do teu vestido
A mão escorrega na fímbria do teu vestido
o sol pousado nos cornos de um touro
foste água fresca na ânfora
eu fui o vento que te despe na tarde
escondes-te num puro lençol
subterrâneo
aí ao fundo do túnel
há um caminho de tâmaras
e de Mediterrâneo
ouve-se uma canção
de porcelana
onde podes voar o frágil silêncio
trazes a máscara da idade do bronze e do sal
correm ali as desvairadas lágrimas
lâminas espetadas
no avesso trágico das memórias
pelos teus olhos perpassa o gume das sombras
de leopardo
e nos desgrenhados momentos de luz
dos suspiros
nos teus lábios pressinto
despertar uma sede de papiros
nas entranhas o apelo do caos
neste início da fome
e das trevas
da época moderna
arde olímpico
o desafio do teu rosto
que consome
meu único vestígio de chama eterna
Lisboa, 12 de Outubro de 2011
Carlos Vieira
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
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