segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Preamar

                                                                   
                                                      ”Enseada dos Tubarões” de Jim Skea (Flickr)
          
I
Não consigo ter a mais pálida ideia
de há quanto tempo não vejo o mar.
Talvez por isso desaprenda a te embalar
porque o amor no seu  desassossego
pode perder a mão, a cor e o vento
e não vislumbrar na branca espuma
o  traiçoeiro  coral de um momento.
Mas que posso ver no mar que em ti
não veja e que por ti não fique cego.
Faz-me falta ver-te mar e ver-te duna.

Lisboa, 23 de Janeiro de 2012

Carlos Vieira

Lisa Gerrard & Marcello De Francisci - The Secret Language Of Angels

Natalie Merchant - Leave Your Sleep - The Man in the Wilderness

sábado, 21 de janeiro de 2012

Voo Nocturno

                                                     “Voo nocturno” de António Jorge Gonçalves

Voo nocturno

Hélice, flor mecânica que nos faz voar pelo eixo álacre do sonho, pela tua voz desço até à doce turbina do teu sexo, na vertigem do teu corpo entrego-me ao frenesim e à avidez desses lugares inexplorados, onde sempre estremeço e te beijo os pés e estou nas nuvens e desligo os motores e me deixo pairar.
Se acordo com a mãos dormentes e transido de frio, fico feliz só de ouvir-te respirar, descanso porque exala o perfume do teu corpo, num prodígio de nimbo-estrato que transponho num frémito repetido como se fosses o mar profundo.
Tu que és essa força centrípeta, a ordem e o caos onde me confundo na altitude do anseio e na plenitude do real que me apazigua a dor e onde, perdido, percorro o céu, cúpula do teu amor de olhares o mundo.
Lisboa, 21 de Janeiro de 2012
Carlos Vieira