domingo, 27 de dezembro de 2015

A cama onde me deito


Enquanto me dava à indústrias dos pensamentos
e à vacuidade dos despachos
desprendiam-se das amoreiras à janela do gabinete
as folhas vermelhas e amarelas
quanto de subtileza na morte e harmonia no bailado
a evitar a prata dos troncos
se transformam por fim na melancolia do tapete precário
até que uma brisa se levante
e o cão rafeiro se deite na cama acabada de fazer
eu continuo às voltas
no virar de página e desperdício da tinta e dos papéis
no labirinto da burocracia
cada um faz a cama onde se deita
não sendo esse contudo o caso dos cães.
Lisboa, 12 de Dezembro de 2015
Carlos Vieira

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