quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Decadência e glória de uma estátua de um deus num jardim particular


Desta janela
aquela estátua
nua e de olhos lácteos
em louvor
a um deus grego
desconhecido
exposta às intempéries
são eloquentes
o verdete que a impregnou
e as brancas feridas da pedra
de alguma terrena queda
alguma negritude
desenhada
aqui ali interrompida
nas escultóricas fímbrias das vestes
e que as chuvas
não lavaram
uma única estátua
de deus grego num jardim
um hino á precariedade
à imperfeição da construção humana
uma representação monoteísta
enfim uma irrelevante
peça decorativa
que nos resgata
do céu da solidão
e que daqui se avista.
Lisboa, 24 de Setembro de 2015
Carlos Vieira


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