quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Palavra derradeira



Podia ser no Outono
e descortinar-te
a anunciares
uma revoada de pássaros
algures
frágil e inquieta
entre o fumegar
das chaminés
e a ressonância
de prata das oliveiras
a partir da reentrância
da encosta
da última vez
partia
um rio de lume
da tua boca.

Devagar 
aproximo-me
a coberto
do fogo
e surpreendo
a nudez diáfana
das tuas espáduas
enquanto crepitam
efémeras
folhas de eucalipto
na urgência
das libações
e da tua febre
entretanto
uma tempestade
perpassa
pelo teu rosto
acomete-me
o temor
de te perder.

Prostrar-me-ei
perante
a tua humanidade
confessarei
as minhas fragilidades
a insensatez
da minha volúpia
e pusilânime
vacuidade
serei apenas
mais uma folha
que cai
matéria
que se extingue
e tu podes ser
apenas um perfume
que evola
no desprendimento
desse voo e dessa queda
instantes
únicos de entrega
sopro de eternidade
o teu nome
exangue
na minha boca.


Lisboa, 7 de Novembro de 2013
Carlos Vieira


                                                         Pintura de Dominique Telmon

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