quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Suores frios


Noites húmidas
deste suor 
sem explicação
ou pingo de amor
de emoção 
de roupa a secar
no corpo
que sem razão 
se consome
e se desfaz em rio
na febre
delta do vazio.

Lisboa, 11 de Setembro de 2014

Carlos Vieira

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Havia em ti...

havia em ti
um pássaro livre
foi de tanto te amar
que pouco a pouco
te perdi
e o pássaro
de tanto ouvir
meu coração bater
ficou louco
desafinou seu canto

Lisboa, 10 de Setembro de 2014
Carlos Vieira


                                                       Pintura de autor desconhecido

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Outra vez o rio que passa na minha terra II



Naquele tempo
eu ia aprender a nadar
para o açude
o meu pai conduzia
a água no pomar
os motores de rega
ganiam como cães
na margem direita
e as cigarras
na outra margem
enquanto eu lutava 
contra a corrente
e em profundidade
descobria 
todos os estilos
quanto os silenciosos
peixes estavam 
mais perto
da eternidade.

Lisboa, 8 de Setembro de 2014

Carlos Vieira

O amante ferroviário



Dois comboios 
passam tão rápidos
mecanicamente 
um pelo outro
e por mim
é tão perfeito
milimétrico
o seu desencontro
ou então conhecem-se 
de ouvido
da desolação
das curvas
e das planícies
tão cegos
nas idas e voltas
do mesmo caminho.

Lisboa, 8 de Setembro de 2014

Carlos Vieira

Poema do amor com pés e sem cabeça



Beijar
os teu pés
teu maior desejo
nos meus lábios
o sabor do segredo
de cada um dos teus passos
fantasia deslumbrante
de ir pela tua vida fora
levantar-te
onde tu caíste
tu és a minha nuvem
eu nunca tive os pés no chão.

Lisboa, 8 de Setembro de 2014

Carlos Vieira

O sol apanha os meus pés...

O sol apenas apanha os meus pés
que me levaram para a sombra
talvez um dia eu tenha um lugar ao sol
e regresse ao desassombro
dos dias
em que o meu olhar
beijava a tua nudez
de pés descalços.

Lisboa, 8 de Setembro de 2014

Carlos Vieira 

Ruídos de uma delicada burocracia



Oiço agora troçar
os pinheiro alpinos
insones
com seus rumores de prata,
neste fim de estação
vão-se despenhando
as flores etéreas
de um vago jardim
e os pássaros
com seus voos
de curto alcance
vão adiando a loucura,
são todos unânimes
contra os requerimentos
que vou alinhavando,
neste ofício
em que sou canhestro
manga de alpaca,
desesperado
entre o passado e o futuro
tantas vezes apátrida
do presente.

Lisboa, 8 de Setembro de 2014
Carlos Vieira


                                                     “Bureaucrat” de autor desconhecido