terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O mundo é pequeno

!

No pequeno mundo
onde crescemos
cada vez mais
olhamos de alto
o mundo de outros
mais pequenos
precários bichos
os gatafunhos
que descrevem
medos profundos
a roer pacientes
troncos suportando
grandes mundos.

Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira

Poetas e outros parasitas


A pulga
é um animal em vias de extinção
pois quem ouve falar de pulgas.
O piolho 
já não, pois apesar 
de não se ouvir falar
é ver as pessoas a coçar a cabeça
por todos os cantos.
Ninguém se queixa que lhe mordeu
uma pulga
embora se confundam 
com Espírito Santo de orelha.
Ambos os bichos parasitas
tem algo semelhante 
à poesia.
Calamos que fomos atacados
por tais insectos,
não é bem visto em sociedade
pode transformar-se em pandemia.
Por favor 
não me chamem poeta
que apenas sou 
devido à minha enorme presunção.
Poeta pelos vistos 
pode ser pior
que piolho ou pulga
ou filho da mesma família.

Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014


Carlos Vieira

Últimamente

Últimamente
aprendi a gostar
de bichos mínimos e larvares
que um dia me hão-de desgostar!

Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira

O escaravelho de Darwin

Que bela é a descoberta 
de um escaravelho de Darwin,
estava perdido
e a ciência reencontrou-o
uma nova religião.

Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira


Cada letra...

Cada letra 
é uma aranha
cada verso
fio invisível
o poema
é uma teia
onde a lágrima
expressa
o indizível.

Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira

Sei que vou por aí!



aventura maior
que descer o rio
interior?

de vencer o rio
rápidos
de Inverno
súbito e avassaladores

sentir
a força dos elementos
no frágil caiaque
que nos leva

sentir
as águas por vezes frias
e doces e cristalinas e revoltas
revoluções tranquilas


descer as gargantas
as cataratas
entre desfiladeiros
que desafiamos com o olhar


a pagaia ali no rochedo
acolá na margem
incansáveis
não temos medo de ninguém!

os corpos presos
os coletes boiando
- a segurança acima de tudo!
por cima de toda a folha e espuma

as arribas
e os arbustos caídos
inclinados por cima da corrente
parece que o céu desaba

- a paisagem, pois tá bem!
muito bonito,
não tenho tempo agora,
tenho mais que fazer!

quem me dera poder
que tudo fossem rosas
evitar os espinhos
que também os há


a humidade
a penetrar no impermeável
- logo agora
que nem tenho tempo
para coçar-me!

o suor e a força
de reencontrar o melhor rumo
- se apanho aquele remoinho
está tudo lixado!

a lâmina da rocha,
- fo…… foi por um triz!
todos heróis acidentais
só porque perto da morte

um pequeno rombo no casco
o que interessa é manter
um mínimo
de verticalidade

chegar suado e ferido
mas feliz
ao fim da enseada
ao final do poema

depois de nada ter ganho
ao rio
havemos por fim
de nos vencer a nós mesmo.

Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014

Carlos Vieira


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Escondo-me no canavial...

Escondo-me no canavial
rodeado de verde e clorofila
até ficar verde de raiva.
Ficou vermelha a Carolina
ao beijar o pálido namorado.

Lisboa,17 de Fevereiro de 2014


Carlos Vieira