sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Poema patra um herói ocasional


Nadou, nadou, nadou
e chegou, exausto
mas chegou
a esse mundo novo
e ocidental
e abraçou
a estátua da liberdade
ela de olhar
cheio de névoa
ele nunca se soube se chorava
se lhe ardiam os olhos
do sal.
Lisboa, 29 de Abril de 2016
Carlos Vieira

Ver um mundo em um grão de areia...

“Ver um mundo em um grão de areia 
e um céu numa flor selvagem 
é ter o infinito na palma da mão 
e a eternidade em uma hora.” 
― William Blake

Liberdade I


Naquele dia
as janelas e as portas
estavam abertas de par em par
minha mãe limpava a casa
corria uma corrente de ar
a minha idade
eram catorze anos
uma estranha utopia
a que chamaram
liberdade
era anunciada
na velha telefonia.
Lisboa, 25 de Abril de 2016
Carlos Vieira

Liberdade V


Revela o poema
essa singular contradição
em que se alcança a liberdade 
no limite do silêncio
na usura da contenção.
Lisboa,25 de Abril de 2016
Carlos Vieira

Liberdade IV


o que demorou
a reaprender todas as cores
ainda existe teimosa 
por dentro
alguma vertigem
de cinzentos
Lisboa, 25 de Abril de 2016
Carlos Vieira

Liberdade III


Perpassa ainda no vibrato
do seu canto
um desconforto clandestino
Lisboa, 25 de Abril de 2016
Carlos Vieira

Liberdade II


na tua pele
que ao tocar estremece
ecoa ainda um medo ancestral
Lisboa, 25 de Abril de 2016
Carlos Vieira