Por contágio danço porque chove e porque um cenário de bailado sempre me ocorre o compasso do tamborilar dos pingos de chuva no telhado acontece o regresso ao fogo do teu corpo molhado e por fim inevitável o seu estertor outra vez o voo letal e correm nos beirais e nas gárgulas cristais que caiem nas minhas mãos de novo a sobrevoarem o vazio infinito.
dou corda aos sapatos, estugo a passada, é impossível ultrapassar a minha sombra e muito menos o indefinido diâmetro da tua, o seu ritmo interior e secreto peso, na urgência do amor o céu é o limite
Tornou-se irrespirável a visão do teu corpo tóxico o seu contacto meu corpo é estranho na sua ausência curiosamente consigo sintonizar na pele do teu ventre um acorde de amêndoas eu de novo fora de mim vivo de equívoco em equívoco como se a tua omoplata fosse uma asa delta e a tua anca firme estivesse a mais de dois dedos do sublime se oiço a seiva que te percorre deixo de saber quem sou posso confundir-te com murmúrios de bétula nos bosques do Norte e na superfície gelada dos lagos vivo sonhos embaciados onde procuro a indescritível suavidade cúmplice dos teus lábios e a nossa respiração ofegante é um silêncio ainda aceitável para esta vida.