Vende-se casa assombrada
Esta noite
outra vez
este retângulo
de um sonho recorrente
de quatro paredes
hipotecado
uma casa mãe
sem telhado
e sem janelas
de água
à volta
da cintura
a precisar de obras
lembro-me
o mesmo assobiar
do vento
a mesma porta
a gemer
pequenas surpresas
acordo
na minha antiga
cama de ferro
que flutua
outra vez
ancorada no tempo
era dos meus bisavôs
na chaminé
uma pirâmide
de fumo
vai até ao céu
pode ouvir-se
o rumor
da tua voz
a crepitar
no fogão de sala
na manhã
uma estranha ausência
de fogo
como se alguém
tivesse desistido
da infância
não tenha dúvidas
você não está
a comprar uma casa
vai viver
a história.
Lisboa, 12 de Março de 2016
Carlos Vieira