sexta-feira, 25 de março de 2016

Amor platónico


Gosta da lua que uiva
que ladra
sem seita
e sem coleira
desse amor
que vai da terra
ao céu
num segundo
gosta
de sexo seguro.
Lisboa, 29 de Fevereiro de 2016
Carlos Vieira

No relvado à noite...

No relvado à noite
cruzam-se a lua, os cães
e os donos, os olhares,
as necessidades,
urgências e desejos 
murmúrios
circunvizinhos
animais amáveis
e bagatelas de amor
nas reentrâncias
dos condomínios
Lisboa, 29 de Fevereiro de 2016
Carlos Vieira

A caixa de Pândora


A caixa de correio
é também de Pândora
entre os “flyers"
da proposta tentadora
e dinheiro fácil
sem porquês
existe a dura realidade
das contas caladas
e de bocas que gritam
no fim do mês.

Lisboa, 28 de Fevereiro de 2016
Carlos Vieira



Desempoeirado protesto


Espanto
depois do declive
traiçoeiro
da história
o regresso
dos fantasmas
a coberto
de tempestades
de pó
silenciando
a urgência
de inteiros
nos erguermos
em sólido
pensamento
surpreendendo
a morte
no presente
festejando
em espanto
os átomos
do futuro.
Lisboa, 27 de Fevereiro de 2016
Carlos Vieira

Chovem...

chovem
pérolas de granizo
efémeras preciosidades
Lisboa, 25 de Fevereiro de 2016
Carlos Vieira

Subitamente...

Subitamente
o seu riso
era esse terramoto
ao avesso
de réplica em réplica 
até à madrugada
do sorriso
reconstruir de vez
o seu abalado
mundo.
Lisboa, 26 de Fevereiro de 2026
Carlos Vieira

Romãs


I
sonho
o corar das romãs
nas mãos da minha avó
ardendo sobre o papel pardo
sobrevoando a balança decimal
II
sonho
uma romã nas mãos
da minha mãe
no paraíso do quintal
ao fundo precário
um equilibrio horizontal
o azul do céu
e o verde do pinhal
III
sonho
a romã e o pecado
a pintarem de sofreguidão
os teus macios lábios
rubros e insaciáveis
e tuas mãos
desesperadas.
Lisboa, 26 de Fevereiro de 2016
Carlos Vieira