“Consenta-se"
paciente
nesta torre
de marfim
neste farol
de paciências
numa névoa
particular.
Concentra-se
fora de si
observando
a ignomínia
da evasão
que por fim
expurga
não existe
maior fuga
e mais triste
do que a daquele
que só em si
existe
e que o procura.
Consente-se
ao deleite
do puro
isolamento
náufrago
a tricotar
os dias
de espuma.
Consome-se
na partilha
dos átomos
e afirma-se
inteiro
em cada um
na retórica
do meio
e do fim
enquanto
sorves
o copo de gin
não sabes
se meio vazio
ou meio cheio.
Consola-se
numa babel
de cimento
armado
de papel
de sangue
e tinta
permanente
tamanha solidez
transporta
inquieta
fragilidade.
Curva-se
nas tentativas
curva-se
nas derrotas
abruptamente
se levanta
intrépido
e já cansado
de tanta inépcia
em desacordo
com o silêncio
cúmplice
de contradições.
Sustém pontes
de pilares
beijados
pelo rio
onde se cala
que assim pode
ir correndo
levar incólumes
os sonhos
da nascente
e deixa-los
na rebentação
da foz.
Exaurido
por um conluio
de etéreos
afetos
contem
a respiração
acalenta
a vã esperança
que dentro de si
o rouxinol
volte a encantar
a solidão.
Lisboa, 16 de Janeiro de 2016
Carlos Vieira