Deixou-te na clausura
da tua solitária torre branca
a vigiar a terra macedónia
a intrépida aventura
do cavalo baio otomano
a galope na aura
e na planície etérea
o trirreme romano
sulcando as águas tépidas da baía
rasgam o sal da tua pele
nas montanhas a espreitar
os bonés companheiros
da Resistência
do Terceiro Reich a águia negra
sabem os itinerários
da esperança e da ignomínia
rainha helénica
frescor elegante de ânfora
inquieta repousas
na penumbra dos teus aposentos
embevecida Penélope
bálsamo mediterrânico
de olhar húmido
ausente
ele permanece atónito
em distante viagem
cercado da sua tristeza vaga
refém da conquista e do canto de sereia
de uma saga envolta
na bruma ocidental
escravo da infinita busca
da verdade e de qualquer mito
de qualquer Atlântida
ou Europa solidária
de acrónico escrito
esquecido
que a verdade das coisas
do dracma e do euro
de tudo aquilo que se ganha
ou que se perde
e que se troca
é muito menos
que a eternidade
do beijo que se acende
e que morre
e que te morde
no sequiosa torre de coral
da tua boca.
Salónica, 4 de Outubro de 2015
Carlos Vieira