sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Espelho VIII



Ataste o lenço
de seda estampado,
deste um último retoque.
Antes foi o gume afiado
do teu olhar de amêndoa,
o silvo dos teus lábios
interrompido
por um guizo de suspiros,
no rumo dos teus dentes
à flor da pele.
As escaramuças
e o vagar
de amar
é algo que apenas
a nós interessa.
Depois o teu vulto
definitivamente
desapareceu na névoa
na memória
do espelho de retrovisor
embaciado.

Lisboa, 31 de Outubro de 2014


Carlos Vieira

Espelho VII



A barbatana de um peixe
é uma lâmina de escamas
que acende no espelho de água

na usura da pele
uma breve agitação
uma revolução tranquila.

Lisboa, 31 de Outubro de 2014
Carlos Vieira

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Espelho VI



Havia um espelho na casa de banho
de estanho corroído
onde te demoravas
a maquilhar
atentando apagar
a passagem do tempo.

Lisboa, 30 de Outubro de 2014
Carlos Vieira

Espelho V



Lembro-me de ti
à janela
tentavas cegar-me
com um pequeno espelho
e só de te ver
não via mais nada.
Isso foi antes do braille
do teu corpo
do murmúrio da tua pele.

Lisboa, 30 de Outubro de 2014
Carlos Vieira

Espelho IV



Aquele espelho
ao fundo do corredor da morte
não sei se para ver
se os condenados
ainda respiram
se para darem
um toque final
ao penteado.

Lisboa, 30 de Outubro de 2014
Carlos Vieira

Espelho III



Passei para o outro lado
do espelho
e agora não sei
o caminho de volta
agora que te encontrei
não sei se sou eu
se é o espelho
feito em estilhaços
espelhado
pelos quatro cantos do mundo
de ti.

Lisboa, 30 de Outubro de 2014
Carlos Vieira

Espelho II

Espelho II

Espelho meu,
espelho meu,
porque mentes?
devolve-me
a luz e a voz
tudo aquilo
que fui
o que sou eu.

Lisboa, 30 de Outubro de 2014
Carlos Vieira