Vulnerável
penetraste no bosque usurário da tua luz
mulher peculiar
princesa selvagem
que coroei
em todas as minhas brumas
o zénite
foi a oratória
dos teus seios túrgidos
quando virado ao sabor da brisa
fiquei preso no vórtice dos perfumes
não sei se no teu ritual de sedução
ou na alquimia
dos teus unguentos
espreito
como um delinquente
quando te debates
na trama de espuma do teu banho
e traço num meridiano de astúcia
a toalha macia do olhar
com que te envolvo
a noite
está para lá
da soberba sensualidade
do teu torso imergente
o bisel do meu desejo
não me dá tréguas
à senoite
só a glosa refulgente
da tua mímica
insaciável
poderá servir de álibi
a que possa
imolar-se o silêncio
depois de ti
da tua injusta beleza
nada me fará
calar.
Lisboa, 5 de Setembro de 2014
Carlos Vieira
“The black woman walk so lonely” por Roberto Duran