sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A bola...

A bola
passou a estrada
eu travei a tempo
o menino veio atrás
agora continua
a correr feliz
intrépido em direção
ao futuro
enquanto
respiro fundo.

Lisboa, 5 de Setembro de 2014
Carlos Vieira


Mulher num final de tarde em Setembro



Vulnerável
penetraste no bosque usurário da tua luz
mulher peculiar
princesa selvagem
que coroei
em todas as minhas brumas

o zénite 
foi a oratória
dos teus seios túrgidos
quando virado ao sabor da brisa
fiquei preso no vórtice dos perfumes 
não sei se no teu ritual de sedução 
ou na alquimia 
dos teus unguentos 

espreito 
como um delinquente
quando te debates
na trama de espuma do teu banho
e traço num meridiano de astúcia
a toalha macia do olhar 
com que te envolvo

a noite 
está para lá 
da soberba sensualidade 
do teu torso imergente 
o bisel do meu desejo
não me dá tréguas

à senoite 
só a glosa refulgente
da tua mímica
insaciável
poderá servir de álibi
a que possa 
imolar-se o silêncio
depois de ti
da tua injusta beleza
nada me fará
calar.

Lisboa, 5 de Setembro de 2014
Carlos Vieira


“The black woman walk so lonely” por Roberto Duran

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A pedra-de-toque...

A pedra-de-toque,

o diapasão

e a palavra chave,

ardem em fogo lento

procurando ouvir

a sua voz interior

e todas as outras

que se reuniram

à volta da sua vida

como se fossem

o rumor de um rio.



Lisboa, 2 de Setembro de 2014


Carlos Vieira

Era grande a paralexia...

Era grande 

a paralexia

do leitor 

que assim 

desiste

e do púlpito

do parque

deita 

ao vento

e aos patos

que se tinham

aproximado

todas 

as palavras 

do texto

que sabia

de cor.

Lisboa, 2 de Setembro de 2014


Carlos Vieira

Vivo afogado...

vivo afogado
entre a liberdade 
e o deslumbramento da cor
e a música que resulta
do encontro
da  mão
no teu ombro
estrela pousada
para vencer a noite

Lisboa, 2 de Setembro de 2014

Carlos Vieira

Entro no túnel...

entro no túnel 
do viaduto
a tua imagem
fosforescente
lateja-me
no espírito
acende-se
naquela noite
no betão
que a anónima
mão deixou
insurrecta
no graffiti

Lisboa, 2 de Setembro de 2014
Carlos Vieira




Refractar...

Refractar

no coração

este sentimento

esta paixão

por ti

e deixar que a sua luz

e o seu sal 

seja o mais puro animal

a galope nas veias

o cristal 

que no silêncio

da minha pele 

contra a tua

reinventa o fogo

te conquista o olhar

o mesmo desejo

por outro prisma

refractar.




Lisboa, 1 de Setembro de 2014
Carlos Vieira




Apresentações de Christy Lee Rogers