sábado, 26 de julho de 2014

Pássaros breves...

Pássaros 
breves
da madrugada
em precário
equilíbrio 
nos fios de telefone
silenciosamente
testemunham
em paralelo
as pausas da saudade
e o acaso
da distância.

Lisboa, 26 de Julho de 2014
Carlos Vieira


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Flor do aloés



ergues-te acima 
das espessas línguas 
de clorofila
erecta 
como se fosses
a flor única do aloés
vermelha
e tu és aquele grito
que entra pelas janelas 
adentro
de par em par
abertas às intempéries
e dali 
traças a bissectriz 
doutro espaço 
onde apenas existe
o tempo
de beijar o vento

Lisboa, 25 de Julho de 2014


Carlos Vieira

Debaixo do Pico da Esperança...

Debaixo

do Pico da Esperança
a persistência de um castanheiro
o gato afia as unhas
no seu tronco
depois enrola o seu rabo
nas pernas
e nas histórias
que perduram numa cadeira
com forro azul petróleo
espera pacientemente
no desencontro das estações
que os ouriços
libertem as castanhas
e esgarça as nuvens do Pico
com suas garras
impotente perante o desafio 
do canto dos pássaros
que fazem nesta manhã
o acompanhamento 
da chuva de Verão.

Santa Rita, 25 de Julho de 2014
Carlos Vieira

terça-feira, 22 de julho de 2014

Incomunicável...

incomunicável
sem palavras
sem rede
Santa Rita, São Jorge, 22 de Julho de 2014
Carlos Vieira



domingo, 20 de julho de 2014

O lento caracol



o lento caracol 
sobe a cana
é subtil o rasto
que desenha
no orvalho
e imperceptível
a folha 
que estremece
estandarte
rumor verde
por cima
das translúcidas
amoras
que aguardam
serenas
a clarividência
azeviche
dos melros
e o insaciável
esmalte
dos teus dentes
enquanto
o vagar
dos meus dedos
te enlouquece
depois da noite 
de espinhos
incandescentes
acenderem
teu corpo
tenso de alabastro
isso foi antes
agora
indiferente
ao desejo
que na madrugada
te fustiga
e te esgana
o lento caracol
desliza
sobe a cana.

Lisboa, 20 de Julho de 2014
Carlos Vieira
 



sábado, 19 de julho de 2014

Poema guindaste

 

Ponho o gancho
do guincho
no cume 
e rodo a manivela
ergo o bote
agora grande ave
no horizonte
onde a baleia
acena
a grande barbatana
que salpica
a vista do Pico
ali fico encalhado
em ti
sem vento
no meio do canal
a ensaiar
este guindaste
de palavras
de mudar
o que deve mudar
no mundo.

Lisboa, 19 de Julho de 2014


Carlos Vieira

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Alguém toca a campainha...

alguém toca a campainha
insiste
hoje não estou 
para ninguém
hoje é um dia sem história
e sem água
o estranho que tocou à porta
vinha substituir
o contador

Lisboa, 16 de Julho de 2014


Carlos Vieira