Não digo nada
nem quero dizer
sou um poço
sem fundo
que só quer
dar água fresca
nem uma palavra
me irão arrancar
sei o que é
guardar segredo
só por cima
do meu cadáver
mas agora
que me esqueci
por onde vim
secretamente
o que me trouxe
até aqui
incessantemente
busco a chave
que transforme
o segredo
o testemunho
que dê sentido
à palavra dada
que era para
ser grito de combate
senha de acesso
à construção
da memória
à ingrata missão
de dar vida
secreta e interior
e fazer pulsar
o sangue que corre
que dá respiração
à melodia
e aos poemas
e que dando-lhe
também lhes tira
uma estranha
forma de vida.
Lisboa, 3 de Junho de 2014
Carlos Vieira