Tenho quinze minutos
para fazer um poema
depois da hora
já não vale
as palavras
ficam à porta
depois do toque
da campainha.
Quantas vezes
as palavras
chegam atrasadas
à meta da vida
planeada ao cronómetro
neste tempo ocidental
de avaliação
de resultados
de excrescência
improdutiva
da poesia.
Deve adaptar-se
a poesia
à circunstância
apresentar-se
com compostura
e elegância
ponderar-se o risco
e o desempenho.
Os poemas
devem ser
de consumo
imediato
servidos de pé
ao balcão
ou então
optar-se
por um texto
de “french cuizine”.
O poeta deve
se possível
observar alguma
frugalidade
mostrar o seu
esfíngico ar
e levemente
sofredor
e deve
estar atento
à sua deixa
ao momento
de entrar
em cena.
A poesia
deve ser contida
despojada
quase de toca e foge
pode quanto muito
arreganhar um pouco
os dentes.
mas depois
não deve
acrescentar ruído
às coisas
importantes.
De vez
em quando
a obra poética
deve acabar
por simular
que é de guerrilha
de causas
e de amar
o próximo
como a si mesmo
apostar
em vários deuses
não vá o diabo
tecê-las.
Há também
como não devia
deixar de ser
poemas que são
matemática pura
que conhecem
os limites
muito equilibrada
respeitadora
sem violar
o tempo concedido
e os espaços
mercados
quero dizer
marcados.
O poema deve
na minha humilde opinião
ter um pouco
de pimenta
e de pecado
uma pequena alusão
sexual
permitir-se
esquecer
por breves instantes
o colesterol
“voilá le flâneur”
e o devaneio.
E já agora a poesia
deve ter algum músculo
obviamente
deixando distante
a epopeia
- isso fica para o Camões -
sem ser musculada
sob pena
de poder ser vista
como simulacro
de algumas
democracias
ou decisões democráticas.
O poema
deve procurar
ser racional
ter mensagem
nas entrelinhas
alguma pedagogia
se for um pouco
recreativa
faz sentido
para que os jogos florais
não percam
o seu significado
e não ficarmos
tragicamente
envolvidos
em jogos de tudo
ou nada
tudo isto
sem demorar
mais de quinze minutos.
Lisboa, 12 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira