Senta-se no café, muito compenetrado,
aparentemente sereno. Usa uns óculos com umas consideráveis dioptrias e cabelo naturalmente
despenteado.
Num reflexo, constato que lê um
livro em inglês grosso e encadernado. Consegue alhear-se das mesas contíguas, da
ensurdecedora máquina café e da louça da cozinha. Heroicamente, da despudorada conversa
de duas vizinhas, acerca das poucas-vergonhas que se passam no seu prédio, também
não o impressionam.
Continua ali impávido, sem uma
ruga no sobrolho, no seu vestuário confortável e nada formal, sublinhando com seu
lápis Rotring algumas passagens, de vez em quando, talvez de vinte em vinte
minutos, levanta a cabeça como se fosse um mergulhador que vem respirar à
superfície.
Lisboa, 3 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira