sábado, 1 de fevereiro de 2014

The Darker Sooner




Then came the darker sooner,
came the later lower.
We were no longer a sweeter-here
happily-ever-after. We were after ever.
We were farther and further.
More was the word we used for harder.
Lost was our standard-bearer.
Our gods were fallen faster,
and fallen larger.
The day was duller, duller
was disaster. Our charge was error.
Instead of leader we had louder,
instead of lover, never. And over this river
broke the winter’s black weather.


Catherine Wing

Capricho


Poema de Marin Sorescu
Tradução de Luciano Maia




A cada anoitecer
peço aos vizinhos
todas as cadeiras disponíveis
e leio-lhes versos.

As cadeiras são muito receptivas
à poesia,
se souberem como dispô-las.

Por isso,
eu me emociono
e durante algumas horas
conto-lhes
como morreu toda a minha alma
nesse dia.

Os nossos encontros
são de costume sóbrios,
sem entusiasmos
inúteis.

Em todo o caso
isso significa que cada um
cumpriu o seu dever
e podemos seguir
adiante.

O inferno do homem

Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes.

Romance sonâmbulo



(A Gloria Giner e a
Fernando de los Rios)



Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.

Mas quem virá? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
— Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
— Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.

Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tranças,
aqui na verde varanda!

Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta, golpeando,
guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.


A nostalgia



Ela queixava-se da sua distracção.
Como se fosse verdade que ele
não a amava como ela dizia que
o amava. Ele pouco ou nada
sabia do amor, por isso que
resposta certa podia sair dos
seus lábios? É verdade que
andara perdido pelas cidades
e por vários países durante anos.
Um dia ferira-o uma dor terrível,
marcara-o a perda de um amor
duradoiro. Quando ela falou e ele
pôde enfim prestar atenção ao
que ela dizia, confundiu-se no
seu espírito a memória desse
amor destruido com a nostalgia
do amor que não tinham ainda
vivido, ele e ela. Mais do que isso
que podia saber? Calou-se. Um dia
talvez pudesse habituar-se de novo ao
sentido aprendido e rejeitado do mundo.

João Camilo
A Ambição Sublime
fenda
2001

Também eu...

Também eu andei assim
a pedir lume
como se o não tivesse. Como se os cigarros
não fossem mais que um pretexto
para esconder da dissolução
o medo.
Também eu andei assim
na rua
procurando um rosto que me desabrigasse
e erguesse ao lodo sublime
da água.
Procura-me tu
agora
nos bolsos
oh tão vagarosa estrangeira
mais que as chaves de casa.


José Carlos Barros

Adivinha II



o que é que sai á noite e regressa de madrugada?

o peso das palavras

o antes e depois da solidão a tilintar
na chave da porta
que se arrasta de uma forma familiar

e o cuidado de ave nocturna com que pousa
os seus pés 

Lisboa, 1 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira