quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Estou por dentro do lado de fora do amor


Murmuro
o teu nome
tiro os sapatos
não te quero acordar
talvez nem vás responder
devagar quero ser dos sonhos
onde me pedes para te defender
no entanto fico aqui do lado da insónia
do teu sono agitado e de tocar os teus lábios
ao de leve deste lado do amor atento
onde não me podes ver.

Lisboa, 30 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira


Pretérito mais que perfeito



Ela saíra há muito
da minha vida
no entanto
por vezes
regressara
um pouco ferida
desamada
um pouco esquiva
quase sempre
sem saber
porque voltara
porque saíra
da sua vida.

Lisboa, 30 de Janeiro de 2014

Carlos Vieira

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Poema em pé

O poema 
deve afirmar-se 
na perpendicular
do tempo
estar preparado
para o pior
dar o peito
às balas
e a mão 
aos que caíram
ao seu lado
por um mundo
melhor.

O poema
ainda que 
corra paralelo
ao mar
e os versos 
se sobreponham
alinhados
no horizonte
são apenas 
caminhos
que nos céus
nos lançam
abismados
a aprender
a voar.

O poema 
deve ser 
erecto 
sem medo 
sem vergonha 
sem pudor 
e as palavras 
praticarem
a ternura
e o sexo alegre 
firme 
e sedutor.

Um poema 
deve içar-se
como um sabre
ao cimo da terra 
astro
que se não 
alumiar
dá calor.

O poema 
deve ser 
de pé
paciente
sem idade
aguentar
em silêncio
até chegar
a hora
da verdade.

O poema 
pode ser 
uma árvore
onde crescem 
ninhos
e países
se colhem 
frutos
e aromas
de cidade
em flor 
onde se criam
as raízes
e se molda
a vontade.

O poema
deve ser 
o que for
um peixe
à volta 
da pedra
um animal
acossado
pelo vazio
por amor.

Lisboa, 29 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

The Most Beautiful "Ave Maria" I've ever heard (Michal Lorenc, 1995) wit...

Duras: Duchamp - John Zorn [Full Album]

Pequeno comércio X


O livro, esse indiscritível rectângulo negro
rosário de pequenas contas
jardim de flores de carvão a crédito

Lisboa, 29 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Pequeno comércio IX



Do pepino cortado em quatro 
os cristais dos grãos de sal e a fatia 
que o vermelho vivo da tua boca mordia.

Lisboa, 29 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira