segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
A Minha Amante
Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…
Dizem - e eu não protesto -
Que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!
Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!
Não entendem dos meus amores contigo -
Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!
SILÊNCIO
Uma noite,
quando o mundo já era muito triste,
veio um pássaro da chuva e entrou no
teu peito,
e aí, como um queixume,
ouviu-se essa voz de dor que já era a tua
voz,
como um metal fino,
uma lâmina no coração dos pássaros.
quando o mundo já era muito triste,
veio um pássaro da chuva e entrou no
teu peito,
e aí, como um queixume,
ouviu-se essa voz de dor que já era a tua
voz,
como um metal fino,
uma lâmina no coração dos pássaros.
Agora,
nem o vento move as cortinas desta casa.
O silêncio é como uma pedra imensa,
encostada à garganta.
José Agostinho Baptista
nem o vento move as cortinas desta casa.
O silêncio é como uma pedra imensa,
encostada à garganta.
José Agostinho Baptista
domingo, 26 de janeiro de 2014
Anjo desumano
anjo desumano
ali sentado
no banco
o anjo
da estação central
parte ou abraça
com o olhar cruel
o comboio
que sai
ou que chega
quer lá saber
do viajante
que passa
traz a mala
e o coração vazios
asas avariadas
sem destino
e lugar marcado
em equipamentos
coletivos
e mobiliário urbano
anjo caído do céu
desempregado
ébrio
morre de fome
e solidão
que já foi divino
e deixou
de ser humano.
Lisboa, 26 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
Diz Toda a Verdade
Diz toda a Verdade mas di-la tendenciosamente -
O êxito está no Circuito
É demasiado brilhante para o nosso enfermo Prazer
A esplêndida surpresa da Verdade
Como o Relâmpago se torna mais fácil para as Crianças
Com uma amável explicação
A Verdade deve ofuscar gradualmente
Ou cada homem ficará cego -
Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"
Tradução de Nuno Júdice
Ódio ao corpo...
Ódio ao corpo, andam esses a dizer há dois mil anos, como se neste curto lapso de tempo da história do homem só devesse haver fantasmas descarnados. Ódio ao corpo, o teu e o meu, disfarçado em tarefas vis e loas absurdas, cobardias pequeninas. Nada disso é gente e eu gosto de estar com gente (falo de corpos), um enchimento de gente à roda, compacta, onde recebemos e damos, estamos e lutamos, sofremos em comum e gozamos. Onde tudo de nós é ampliado, revigorado, e medido pelo colectivo, pelos outros - espelho e limite, cadeia e espaço imenso, liberdade e nossa conquista.
Luís Pacheco, Comunidade
Luís Pacheco, Comunidade
Morte em veneza
De muitas coisas se pode morrer
em Veneza
De velhice de susto
de peste
ou de beleza
Jorge Sousa Braga, Poemas com Cinema
em Veneza
De velhice de susto
de peste
ou de beleza
Jorge Sousa Braga, Poemas com Cinema
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