sábado, 25 de janeiro de 2014

Gosto do tiro ao arco...

Gosto de tiro ao arco, de sentir a madeira do punho, da tensão imperturbavel que antecede o soltar da corda, de observar a elegância do voo da seta, sabendo que na leveza das suas penas, leva o suor dos meus dedos.
Na instável maçã vermelha, vislumbro o pânico no olhar do filho de Guilherme Tell, guardo comigo, uma última seta na aljava, para defender o teu amor, uma ideia antiga de país, onde se pode ouvir o silvo das palavras em liberdade.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

O pescador...

O pescador
lança a linha 
no meio do lago,
a carpa é hoje
o seu sonho
mais profundo.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Eis-me aqui...

Eis-me aqui 
no caiaque rio abaixo
envolto nas águas revoltas,
um deus
que emerge das águas
um homem que desce
aos infernos.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

A força da corrente...


A força da corrente 
torna a piroga mais instável
como na vida,
mais abaixo poderei colher 
a lentidão das flores e os frutos
que pendem sobre o espelho de água
e sobre a vida.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Deito-me ao comprido...

Deito-me ao comprido na piroga
a vida e a morte 
podem ser apenas isto
eu, as nuvens e o céu.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Ali vou eu...

Ali vou eu
erecto sobre a piroga
com a pagaia 
ofendo a alegria da água
e respiro.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Piroga...

Piroga
rasga o espelho de água
da lagoa azul e vence a nudez.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira