Uma fala de um fazendeiro que acorda e descobre que seu cavalo fugiu. Os vizinhos vêm e dizem: -Que pena. Que azar terrível! O fazendeiro responde: -Talvez. No dia seguinte, o cavalo retorna com mais alguns cavalos. Os vizinhos dão os parabéns ao fazendeiro pela mudança na sorte. -Talvez - diz o fazendeiro. Quando seu filho tenta montar um dos cavalos novos, quebra a perna, e os vizinhos se condoem. -Talvez - diz o fazendeiro. E no dia seguinte, quando autoridades vêm alistar o filho - e não o levam por causa da perna quebrada - Todo mundo fica feliz. -Talvez - diz o vizinho.
Já ouvi histórias assim antes. São lindas em sua simplicidade e entrega ao Universo. Imagino se eu poderia me apegar a algo de tamanho desapego. Não sei. Talvez.
"O que eu acho extraordinário é que as pessoas não tinham nada, eram pobres, mas lançavam-se para a aventura da vida comum com uma esperança e uma profundidade incalculáveis; não tinham medo de nada, de partilhar afectos ou dois cacos, de contar as migalhas da incerteza permanente ou de abreviar os remorsos depois das lágrimas".
- MANUEL DA SILVA RAMOS, Pai, levanta-te, vem fazer-me um fato de canela!, 2013 (Realejos mágicos).