"O que eu acho extraordinário é que as pessoas não tinham nada, eram pobres, mas lançavam-se para a aventura da vida comum com uma esperança e uma profundidade incalculáveis; não tinham medo de nada, de partilhar afectos ou dois cacos, de contar as migalhas da incerteza permanente ou de abreviar os remorsos depois das lágrimas".
- MANUEL DA SILVA RAMOS, Pai, levanta-te, vem fazer-me um fato de canela!, 2013 (Realejos mágicos).
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Tu já me arrumaste...
Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo
tu és ainda o meu relógio de vento
a minha máquina aceleradora de sangue
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?
Isabel Meyrelles
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo
tu és ainda o meu relógio de vento
a minha máquina aceleradora de sangue
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?
Isabel Meyrelles
Penso à vezes...
«Penso às vezes que vale a pena morrer. Que fui muito pouco ditosa ou muito pouco jeitosa porque nunca soube arrumar a minha vida à feição do meu carácter. (...) Foi-se-me a idade dos contentamentos fáceis e das ilusões (...)»
Solidão II - Irene Lisboa
Histórias à volta do pinhal
I
Perdeu-se no pinhal
que cresceu dentro de si
de que servem o ódio e o rancor?
II
Uma ferida escancarada uma vida inteira
na vertical, a verter a verdade
resina do tédio e da solidão.
III
O seu coração
é uma pinha escancarada
de onde levaram todo o pinhão.
IV
Sempre a voar tão alto
deixou de saber andar na terra
as estrelas nunca vão deixar de ser a tentação.
V
Sinto um perfume que me liberta
e que a brisa trás, serão “flores de verde pinho”?
desconfio que serão urze e tojo.
VI
Sempre este dilema
de escolher a árvore
e de me perder na floresta.
VII
Sempre foi grande a minha admiração
por histórias com musgo
contadas por insectos.
VIII
O cerne
é uma palavra que me impressiona
que me intimida, algumas questões nem tanto.
IX
Das carrascas do pinheiro
inventou barcos, aviões, castelos
depois vieram os carrascos e fornicaram tudo.
X
O Pinhal de Leiria,
com o qual escreveu das mais belas páginas
da sua já longa história e nunca foi navegador.
Lisboa, 20 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
"Pine Forrest", foto de Maion Body-Evans
domingo, 19 de janeiro de 2014
Mais um desencontro
Viu-a subir a escada
agarrada ao corrimão
a seguir desce um homem
agarrado a ela
tu és outro homem estátua
sentado na Brasileira
podia pertencer
a esta história
aquela flor pisada.
Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
Conto as pedras...
Conto as pedras
da calçada portuguesa, contos
de um país de arestas vivas a preto e branco
Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
De súbito...
De súbito um raio
ou um tigre que pressente
próxima a monção.
Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
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