Murmúrio
de rios interiores
inventando
margens
e corredores
aflitos
em busca
da paz dos justos
desfazendo
mitos.
Murmúrio
de segredos
inconfessáveis
no ancestral
silêncio
arquivados
escutam-se
insondáveis
desígnios.
Murmúrio
do instável
equilíbrio
das palavras
que ficaram
por dizer
na dolorosa
indecisão
dos tímidos.
Murmúrio
de mães
inquietas na noite
a aguardar
com as mãos vazias
ao colo
o regresso
dos filhos
a qualquer forma
de amor.
Murmúrio
das batalhas
que se avizinham
em que todos
se ferem
ou morremos
um pouco
Murmúrio
agitado
do fim do mês
de sobressaltos
e do breve
interregno
da fome.
Murmúrio
de renovada
esperança
dos doentes
terminais
e dos outros
que já não
suportam
mais a dor.
Murmúrio
dos que iniciam
espinhosas
caminhadas
e do eco
dos seus passos
na areia
de um deserto
sem esperança
rumo
a um Mediterrâneo
qualquer.
Murmúrio
do estrépito
de todas as noites
de cristais
de todas as estrelas
que crescem
amarelas
nas lapelas
e da raiz do medo
que desce
pelo peito
e devora
os corações.
Lisboa, 17 de Novembro de 2013
Carlos Vieira