A trama
dos gestos desprendidos
o pretexto das tuas pernas
de tesoura
sobre a fragilidade
de um fio imperturbável
numa pirueta
podes ser a face
de uma solidão em pontas
o peso insustentável
de uma lágrima
traindo-te
no murmúrio dos teus lábios
trémulos na emboscada
onde sobrevives
a um silêncio ensurdecedor
puxas o gatilho da tua festa
fulminas
depois acorres
com teu sorriso acolhedor
na curva fechada do caminho
da tua mão agitada
que descreve o arco
onde estremece o corpo
ameaçado por um olhar
de soslaio
vai vai mulher do cabelo solto
que voa
voa despenteado
abre o ângulo morto
da tua dor calada
deixa que o insulto contido
incendeie a paisagem
e o esplendor do teu vulto
depois todo o estertor
do teu corpo
que seja o bailado
do lenço de seda que acena
no cais do mal entendido
aragem mínima
miragem
na minha sede
de querer que sejas mais
que um poema
que se afasta.
Lisboa, 27 de Agosto de 2013
Carlos Vieira