sexta-feira, 10 de agosto de 2012

sopa da pedra


sopa de pedra



este perfume de hortelã

no gesto que te derruba

o paladar que o contém

esta textura da carne

um alvo silêncio de pão

na frugalidade da mesa

a única palavra da mãe

arrefecer-nos-á o caldo

e na inutilidade da boca

cura-se o corpo e alma

aflora-se a dor e o nome

em cada colher de sopa

oiço o princípio da fome



Porto de Mós, 10 de Agosto de 2012

Carlos Vieira



                                           Giudici Reynaldo “La sopa dos los pobres” (Venecia)




“pai do vento”

 

eis ali as flores improváveis

na janela da infância

apenas dois moinhos eólicos

a transformar a imponente

presença da serras e do céu azul

no voo e elegância

do homem omnipotente



Porto de Mós, 10 de Agosto de 2012

Carlos Vieira

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

História de um amor à primeira vista (Ria Formosa)




No fio de prumo do meio dia

beija-a na testa a maré viva

reconhece a volúpia do olhar

os secretos baixios da ria

deixa-o no doce contornar

do seu corpo farol à deriva

vai na corrente o cardume

de desejos e o voo perplexo

invade as narinas o perfume

na violência do seu amplexo

reacende-se o antigo lume

liberta-os da viscosa solidão

e ali encalhados na rebentação

inventam um lugar no mundo

onde o amor e a morte é o cume

que se reconquista a cada segundo



Ilha do Farol, 31 de Julho de 2012

Carlos Vieira

                                                                         
                                                                    Pintura de Derek Byrne