sábado, 14 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
O jogo do mundo
"O jogo da macaca
joga-se com uma pedra que tem de se empurrar com a biqueira do sapato.
Ingredientes: um passeio, uma pedra, um sapato e um belo desenho feito com giz,
de preferência colorido. O Céu está lá ao fundo e a Terra aqui em baixo, é muito
difícil acertar com a pedra no Céu, calcula-se quase sempre mal e a pedra sai do
desenho. Pouco a pouco, no entanto, vai-se adquirindo a habilidade necessária
para acertar em todas as casas (a macaca em caracol, rectangular, de fantasia,
pouco utilizada), e um dia aprende-se a sair da Terra e a levar a pedra até ao
Céu, até chegar ao Céu (…); o problema é que é precisamente nessa altura, quando
quase ninguém aprendeu ainda a levar a pedra até ao Céu, que a infância se acaba
e de repente se cai nos romances, na angústia inútil, na especulação de outro
Céu ao qual também é preciso aprender a chegar. E como já se saiu da infância
(…) esquece-se que para chegar ao Céu são necessários uma pedra e a biqueira do
sapato, como utensílios básicos."
O Jogo do Mundo (Rayuela)
requiem por uma amizade
robert schindel /
Morreu o meu hóspede, vejo-o ainda a descer, a descer
Pelo caminho abaixo com a
distância nos cabelos.
E de noite, quando as estrelas o
permitem, serpenteia, serpenteia
O seu eco no coração, morreu o
meu hóspede.
Um riso, um sapato, o violino de
estar aqui
Bebíamos um copo ou dormíamos
nas palavras mais novas
E havia segundos que fazíamos
explodir
Saltar da lama do tempo, para
assim o podermos entender.
Agora foi-se, o seu nome
descansa, descansa o tempo
Levanto os pés do caminho e vou
andando
Às arrecuas pelo atalho, o eco
traz-me
O longe e o perto, eu e nunca, o
hóspede-amigo do lado de lá.
Há por aqui outras paisagens?,
perguntam por vezes as crianças.
Eu parto o caminho em pedaços e
ofereço-lhes
Serpentinas, serpentinas, que
elas recebem como maçãs e papoilas.
Porque tempos houve em que
dormíamos nas palavras,
Tempos houve em que fazíamos
explodir o tempo.
robert schindel
EM SINTRA
As águas maravilham-se entre os lábios
e a fala, rápidos
em Sintra espelhos surgem como pássaros,
a luz de que se erguem acontece às águas,
à flor da fala
divide os lábios e a ternura. Da linguagem
rebentam folhas duma cor incómoda, as de que
maravilhado de água surges entre
livros, algum crime, um
menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues
equívoca a luz depois. Rápidos
espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.
(Luís Miguel Nava) *
in «Poesia Completa 1979-1994», 2002
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