sexta-feira, 6 de abril de 2012

Oh! quand je dors

                      Oh ! quand je dors...

Oh ! quand je dors, viens auprès de ma couche,
Comme à Pétrarque apparaissait Laura,
Et qu'en passant ton haleine me touche... -
Soudain ma bouche
S'entr'ouvrira !

Sur mon front morne où peut-être s'achève
Un songe noir qui trop longtemps dura,
Que ton regard comme un astre se lève... -
Soudain mon rêve
Rayonnera !

Puis sur ma lèvre où voltige une flamme,
Eclair d'amour que Dieu même épura,
Pose un baiser, et d'ange deviens femme... -
Soudain mon âme
S'éveillera !

terça-feira, 3 de abril de 2012

Das dificuldades de ser livre


Mais de vinte e quatro horas sem dormir

e tenho barcos e sonhos com as hélices presas

nos cabos do desespero

ao mesmo tempo que as cegonhas atravessam

a cidade oblíqua

e no bico transportam o musgo

de reconstruir a ternura

entretanto no labirinto dos canais e das marés

vai a liberdade ficando assoreada

e deixo-me ir na corrente

nessa resistência inútil das algas

irrompe em verde água e ironia

sobre a madrugada da ria

e o desperdício azul do sono

o progressivo declínio da esperança

as gaivotas  estremunhadas

voltam ao seu ofício de devorar os barcos

cada vez menos durmo

e nessa vigília

cada vez é mais difícil reconhecer as palavras

onde respiram os homens.



Lisboa, 3 de Abril de 2012

Carlos Vieira



                                              “São Jerónimo” de Leonardo da Vinci