domingo, 11 de março de 2012

OS CINES SELVAGENS DE COOLE - W. B. Yeats

William



OS CINES SELVAGENS DE COOLE

Em sua outonal beleza estão as árvores,
Secas as veredas do bosque;
No crepúsculo de Outubro as águas
Reflectem um céu tranquilo;
Nessas transbordantes águas sobre as pedras
Banham-se cinquenta e nove cisnes.

Dezenove outonos se passaram desde que
Os contei pela primeira vez;
E, enquanto o fazia, vi
Que de repente todos se erguiam
E em largos círculos quebrados revolteavam
As clamorosas asas.

Contemplei esses seres resplandecentes,
E agora há uma ferida no meu coração.
Tudo mudou desde o dia em que ouvindo ao crepúsculo,
Pela primeira vez nesta costa,
A alta música dessas asas sobre a minha cabeça,
Com mais ligeiro passo caminhei.

Infatigáveis, amante com amante,
Movem-se nas frias
E fraternas correntes ou elevam-se nos ares;
Os seus corações não envelheceram;
Paixão ou conquista solicitam ainda
Seu incerto viajar.
Mas vagueiam agora pelas quietas águas,
Misteriosos, belos;
Entre que juncos edificarão sua morada,
Junto a que lago, junto a que charco,
Deliciarão o olhar do homem quando um dia eu despertar
E descobrir que voando se foram?
W.B. YEATS

NATHALIE PICOULET

James Blake - Limit To Your Love

How little we know

K.D. Lang - So in Love ( Lauren Bacall )

Little Red Rooster by Big Mama Thornton

I - Memória de Árvores


Desde há instantes que fiquei quieto

no meio deste Inverno desconhecido

porque se ergueu dentro de mim

aquele pessegueiro

e no seu interior uma arvéola

que me saltava para o olhar

de um ninho de espanto

nesse silêncio de calda branca

que me cobria o tronco e o tempo

antes do frenesim

de pêssegos flamejantes

da memória da água

e do peso da terra

sobre o veludo da pele

já era tarde

sobre o rosa pálido

a arrefecer o corpo

onde escorria o sumo

de morder a fruta

e o pôr-do-sol


Lisboa, 9 de Março de 2012

Carlos Vieira





“Souvenir de Mauve”

Vincent Van Gogh