sábado, 28 de janeiro de 2012
Sonho marítimo de uma árvore anónima
Olho para as árvores
que deixaram de ser mastros
ou rumor de outro mar
e de outra história
em silêncio escutando-as
oiço os homens colossais
prodigiosos
os seus grilhões
e os seus longos braços erguidos
empunhando barcos e pássaros
os seus olhos são punhais.
À flor da pele está içado
um sonho
de um mapa verde
de mudar o mundo
onde revemos outros trilhos
dos novos destemidos
e aqueles que trazem consigo
os nossos filhos
a última palavra
dos remoinhos de afogados
e a primeira de outros calados
no ar que se respira.
Podemos ver
na curva do tempo
o mar a beijar-nos os pés
os que morrem na praia
e os outros das galés
aqueles onde corre
a febre do sangue
a caminho das ondas.
Acesa na areia
fulge a firmeza de uma ideia
de esperança
de queimar o tempo
deste Inverno maior
e de apenas sobrarem
sombras tímidas
de melros
das árvores nuas
segredos e folhas caídas
contra o sol
e a raiz dos medos
distingue-se um jardim
plantado num outro mar
pelas artérias do mapa verde
floresce um novo mundo
e o sonho de um navio
de mão dada a passear
Lisboa, 27 de Janeiro de 2012
Carlos Vieira
“fantasies of a naked trees” by Covert Art
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Preamar - II
Pintura de autor desconhecido
Preamar
II
Ali estavas no teu intangível vestido de noite, de pérolas e de sal
podia até ouvir-te nesse sonho em que corres descalça no areal
ou se amanhece o teu sorriso de luz etérea e na brisa que te esconde
nessa antiga memória arquejando de espasmos num uníssono de mar
reconheço-te o sabor, o regresso à loucura e ao indefinido perfume
que me derruba, mordo o pó da estrada, fenda aberta no meio do luar
limiar secreto de outro esplendor, de um cardume de peixes e de estrelas
e alastra de novo em mim, ancestral, o rasto marítimo que deixas ao passar
Lisboa, 26 de Janeiro de 2012
Carlos Vieira
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
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