segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Friedrich Nietzsche

Nos indivíduos, a insanidade é rara; mas nos grupos, partidos, nações e épocas, é a norma;
Friedrich Nietzsche

Inventário de Lugares Propícios ao Amor (Angel Gonzalez


São poucos.
A primavera tem muito prestígio, mas
é melhor o verão.
E também essas frestas que o outono
forma quando interfere com os domingos
em algumas cidades
já de si amarelas como bananas.
O inverno elimina muitos sítios:
gonzos de portas orientadas a norte,
margens de rios,
bancos de jardins.
Os contrafortes exteriores
das velhas igrejas
deixam às vezes vãos
a utilizar, ainda que a neve caia.
Mas desenganemo-nos: as baixas
temperaturas e os ventos húmidos
dificultam tudo.
As leis, além do mais, proíbem
as carícias (à excepção
de determinadas zonas epidérmicas
sem qualquer interesse -
em crianças, cães e outros animais)
e "não tocar, perigo de ignomínia"
pode ler-se em milhares de olhares.
Para onde fugir, então?
Por todo o lado olhos de viés,
córneas torturadas,
implacáveis pupilas,
retinas reticentes,
vigiam, desconfiam, ameaçam.
Resta talvez o recurso de andar sozinho,
de esvaziar a alma de ternura
e enchê-la de fastio e indiferença,

Indisciplina (Cesar Pavese)


O bêbado deixa para trás as casas estupefactas.
Nem todos se aventuram a passear bêbados
à luz do sol. Atravessa tranquilo a rua,
e poderia entrar pelas paredes dentro, pois as paredes estão ali.
Só os cães deambulam assim, mas um cão pára
sempre que sente uma cadela e cheira-a cuidadosamente.
O bêbado não vê ninguém, nem mesmo as mulheres.
Na rua, as pessoas que se perturbam ao vê-lo, não se riem
e gostariam que não estivesse ali o bêbado, mas os muitos que tropeçam
ao segui-lo com os olhos voltam a olhar em frente
com uma praga. Passado que foi o bêbado,
toda a rua se move mais lentamente
à luz do sol. E se uma pessoa começa
a correr, é alguém que não o bêbado.
Os outros olham, sem distinguir, o céu e as casas
que nunca deixaram de estar ali, ainda que ninguém as veja.
O bêbado não vê as casas nem o céu,
mas sabe que estão ali, pois num passo pouco firme percorre um espaço
tão claro como as franjas do céu. As pessoas, embaraçadas,
deixam de compreender o que fazem ali as casas,
e as mulheres já não olham para os homens. Têm
todos, dir-se-ia, medo de que de repente a voz
rouca se ponha a cantar e os persiga pelo ar.
Cada casa tem uma porta, mas não vale a pena entrar.
O bêbado não canta, mas mete por uma rua
onde o único obstáculo é o ar. Felizmente
não vai dar ao mar, pois o bêbado,
caminhando tranquilo, entraria também no mar
e, deixando de se ver, prosseguiria no fundo o mesmo caminho.
Cá fora, a luz seria sempre a mesma.

Florestas antecedem as civilizações...

Florestas antecedem as civilizações, desertos sucedem-lhe!

Existencialism

Existentialism
WOODY ALLEN: That's quite a lovely Jackson Pollock, isn't it?
GIRL IN MUSEUM: Yes it is.
WOODY ALLEN: What does it say to you?
GIRL IN MUSEUM: It restates the negativeness of the universe, the hideous lonely emptiness of existence, nothingness, the predicament of man forced to live in a barren, godless eternity, like a tiny flame flickering in an immense void, with nothing but waste, horror, and degradation, forming a useless bleak straightjacket in a black absurd cosmos.
WOODY ALLEN: What are you doing Saturday night?
GIRL IN MUSEUM: Committing suicide.
WOODY ALLEN: What about Friday night?
GIRL IN MUSEUM: [leaves silently]
"Play It Again, Sam", Paramount Pictures, 1972;




image of "The Scream," 1893, by Edvard Munch

Douglas Coupland


Os bois...

Os bois
prosseguiam
vagarosamente os dois
sem saber
e sem olhar para trás
rasgavam a terra
e naquela nesga
exponham os vermes
seduziam os pássaros
animavam as sementes
hoje não são mais
que memórias ancestrais
na sua mansa bestialidade
dinossauros do futuro
Lisboa, 25 de Maio de 2016
Carlos Vieira