sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Enigmas of quietud....


"enigmas of quietude in the midst of general becoming." - Dresden 1931

Franz Radziwill (preso pelo regime nazi)


"Houses"




“Art is not the application of a canon of beauty but what the instinct and the brain can conceive beyond any canon. When we love a woman we don’t start measuring her limbs." -Pablo Picasso
"A vida" Pablo Picasso"


Porque pertenço à raça...

"Porque pertenço à raça daqueles que mergulham de olhos abertos. E conhecem o abismo pedra a pedra, anémona a anémona, flor a flor."
Sophia de Mello Breyner Andresen

Poema para três nespereiras de todos os dias


Despir
com os dentes
tão brancos
a película
e a penugem
morder
a carne tão doce
e amarela
das nêsperas
sair à rua
escutando
o esturgir
ao pisar a nervura
das folhas secas
sucumbir
ao perfume
das nêsperas
cuspir
o carôço
redondo
húmido
de sumo
e de saliva
sobre a terra
e esperar
que dê
novas nêsperas
ao mundo
gosto
das deixar ficar
e de deixar-me ir
e no outro dia
elas estão
à minha espera
mais eloquentes
na Primavera.
Lisboa, 20 de Abril de 2016
Carlos Vieira


Blues para um desconhecido


Era um homem
nobre
que só levava
a sério a vida
ébrio
um dia
numa noite
em que estava
sóbrio
resolve jogar
à roleta russa
uma bala
desenhou-lhe
na parietal
do crânio
a auréola
de uma flor
vermelha.
Mais tarde
no funeral
da segurança social
do homem nobre
num dia de chuva
perguntaram-lhe
"- Quer despedir-se,
vê-lo uma última vez?"
acenou que não
guardaria do pobre
a imagem
do homem
desconhecido
que sorria,sorria, sorria
sem sentido.
Lisboa, 19 de Abril de 2016
Carlos Vieira

O copo é uma apagada lanterna

o copo é uma apagada lanterna
que repousa no balcão
a sua mão no vazio
sobrevoa a taberna
em voo inábil
eloquente e último
e tardio
Lisboa, 19 de Abril de 2016
Carlos Vieira