domingo, 27 de março de 2016

Crisálida


Crisálida
mistério oculto
cárcere de melancólica 
perfeição
das sombras sortilégio
cápsula da viagem
e exaltação do futuro.
Lisboa, 20 de Março de 2016
Carlos Vieira


O síndroma de Estocolmo de um piriquito


De súbito
desafiando
o sol de inverno
uma cruz verde
de asas
contra o azul do céu
a crocitar
numa azáfama tropical
um piriquito
que não sabe do Sul
nem quer saber do Norte
busca extenuado
a alpista
o ar condicionado
uma gaiola
e um dono.
Lisboa, 15 de Março de 2016
Carlos Vieira

Hino ao pão


Este é um poema
singelo
em pão fresco 
de trigo
sob a toalha
de linho branco
dourada
é a côdea dos versos
por vezes
feitos do pão
que o diabo
amassou
outras
é pão quente
saído
do forno do olhar
da minha mãe
a rimar
com seu coração
de manteiga
e de silêncios.
Lisboa, 14 de Março de 2016
Carlos Vieira

Amolador



Do amolador
oiço o gume
da faca de cozinha
na pedra de água
e o realejo
pudesse também
um beijo meu
afiar
no teu coração
um renovado
desejo
desgastar a usura
da mágoa
e do concerto
de varetas
resultar
voltares de novo
para debaixo
do guarda chuva
da ternura.

Lisboa, 13de Março de 2016
Carlos Vieira



sábado, 26 de março de 2016

Nas suas mãos...

nas suas mãos em concha
recipientes do amor
saciei a minha sede
Lisboa, 13 de Março de 2016
Carlos Vieira

Aqui estou...

aqui estou
que aguardo em silêncio
a luz da palavra
imperceptível
que nos teus lábios
pode surpreender
a madrugada
Lisboa, 13 de Março de 2016
Carlos Vieira

Amando-te


Sei de cor os teus olhos
se olho para ti ou por ti
de tanto decantar a cor
e a sombra do teu olhar
de te cegar de beijos
de beber o veneno
da convulsão do pranto
do suado elixir de alegria
cresce a erupção de raiva
no teu corpo em arco
e a vibrante ereção solta
uma flecha do êxtase.
Lisboa, 12 de Março de 2016
Carlos Vieira