terça-feira, 22 de abril de 2014

flores de jardim XIV



crisântemos secos
sobre o mármore rosa
onde me sento
tento 
decifrar o mapa 
das suas veias
que nos conduzem
a outro mundo
ali corre o sangue
da eternidade

Lisboa, 22 de Abril de 2014
Carlos Vieira

flores de jardim XIII

um cravo vermelho 
na lapela
teus ávidos
lábios carmim
convidam ao motim

Lisboa, 22 de Abril de 2014
Carlos Vieira

flores de jardim XII



debaixo dos nenúfares
peixes vermelhos
por cima
pequenas rãs
e a memória
dos elefantes

Lisboa, 22 de Abril de 2014
Carlos Vieira

flores de jardim XI



choveu
pouco tempo
agora a água 
escorre 
pelo caule
vai evaporar-se 
das corolas
ou nelas uma ave
irá saciar-se
mais suave será
seu canto
nada se perde
eu apanhei
uma constipação 
e estou a arder
em febre
só de atravessar
o jardim
sou uma flor 
de estufa

Lisboa, 22 de Abril de 2014
Carlos Vieira

Flores de Jardim IX


devagar
a passear pelo jardim
fico com a certeza
de que passaste 
por aqui
só de observar
a forma como as flores
se inclinam para mim

Lisboa, 22 de Abril de 2014
Carlos Vieira

flores de jardim X


arranco as ervas daninhas
em silêncio comovido
as flores agradecem

Lisboa, 22 de Abril de 2014
Carlos Vieira

flores de jardim VIII


uma formiga 
sai de debaixo
da terra 
e sobe o caule 
entrou pela corola 
entreaberta 
da flor
para lhe contar 
um segredo

Lisboa, 22 de Abril de 2014
Carlos Vieira