Eis-me aqui cercado do verde irlandês, das pastagens, das sebes, dos renques de árvores, que fazem de fantasmas desgrenhados contra o pôr-do-sol. o horizonte distante e eu neste quarto de hotel, amarrado contra à minha pele, a expôr o meu ponto de vista, todo muito cinzento, como deve ser. cumprindo este desígnio de lamber papel e fazer de conta que descobri o ovo de Colombo ou que inventei a roda. lá fora o sol brilha insistentemente, e pela vidraça, imaculada, vinda da direita para a esquerda, a aparição de uma bicicleta vai pelo campo fora, duas rodas e uma rapariga de jeans, tudo tão sereno, pueril e harmonioso, nem a corrente salta da cremalheira, e eu que procurava alinhar as ideias e dar-lhe sequência e ritmo, perdi-me na dissertação, perante o consórcio de observadores, sempre atentos à mínima falha e que nestas coisas dos eventos internacionais, tem outra pedalada.
PortLaoise, 15 de Abril de 2014
Carlos Vieira