Incidente
quarta-feira, 12 de março de 2014
Fico na cela...
Fico na cela
a ver entrar o sol
às fatias
um pardal
pousa a janela
interrompe-me
o seu canto
o recolhimento
o catre
endureceu
de repente
Lisboa, 12 de Março de 2014
Carlos Vieira
as flores...
as flores
vão rodando
por dentro dos relógios
onde as horas vão dar corda
aos nossos corações e afiar espinhos.
Lisboa, 12 de Março de 2014
Carlos Vieira
Volúvel...
volúvel
a borboleta branca no relvado
verde e inútil
dou asas
à imaginação
e aos teus pés descalços
Lisboa, 12 de Março de 2014
Carlos Vieira
um seixo...
um seixo na minha mão
história guardada de vento e mar
e do beijo cortante
Lisboa, 12 de Março de 2014
Carlos Vieira
terça-feira, 11 de março de 2014
Os melros...
Os melros
salpicam os jardins
as flores curvam-se
e agradecem
respeitosamente
serem poupadas
às mandíbulas
dos insectos
Lisboa, 11 de Março de 2014
Carlos Vieira
Minha mãe...
minha mãe
manhã clara
podes descansar
teus olhos de açúcar
mascavado
tuas delicadas mãos
na brisa hábil
Lisboa, 11 de Março de 2014
Carlos Vieira
Demoro...
Demoro
tanto tempo a encontrar-te
meu amor
sempre jogas às escondidas
sem me dizer nada
culpas-me
de não me esforçar
o suficiente
eu vivo
com essa sensação
que um dia
te escondas definitivamente
que não saibas
o caminho de volta
ou eu me perca
nos labirintos do tempo
e me atrase
ao chegar à tua vida
sempre
tão urgente.
Lisboa, 11 de Março de 2014
Carlos Vieira
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