domingo, 26 de janeiro de 2014

No relógio...

No relógio da estação
o comboio chega sempre atrasado
à avidez do teu beijo.

Lisboa, 26 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

Descreves...

Descreves o círculo vicioso
sobre o seu silêncio
e tu ali à distância de um raio.

Lisboa, 26 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Paro...

Paro
no sinal de perda
de prioridade
e vejo a minha vida
em "slow motion"
e o coração
em ritmo acelerado
ouço ao longe
os claxons a apitar.

Lisboa, 26 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Velho, não.

Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.


Mia Couto

Sonnet IV: Bright Star of Beauty


Bright star of beauty, on whose eyelids sit
A thousand nymph-like and enamour'd Graces,
The Goddesses of Memory and Wit,
Which there in order take their several places;
In whose dear bosom sweet delicious Love
Lays down his quiver, which he once did bear,
Since he that blessed Paradise did prove,
And leaves his mother's lap to sport him there.
Let others strive to entertain with words;
My soul is of a braver metal made;
I hold that vile which vulgar wit affords;
In me's that faith which Time cannot invade.
Let what I praise be still made good by you;
Be you most worthy, whilst I am most true. 

Reconciliação




Há-de uma grande estrela cair no meu colo...
A noite será de vigília,

E rezaremos em línguas
Entalhadas como harpas.

Será noite de reconciliação -
Há tanto Deus a derramar-se em nós.

Crianças são os nossos corações,
anseiam pela paz, doces-cansados.

E nossos lábios desejam beijar-se -
Por que hesitas?

Não faz meu coração fronteira com o teu?
O teu sangue não pára de dar cor às minhas faces.

Será noite de reconciliação,
Se nos dermos, a morte não virá.

Há-de uma grande estrela cair no meu colo.


*****

a magnólia

 

A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor. 

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala. 
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
Perdido na tempestade, 
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim. 

luiza  neto jorge
o seu a seu tempo
poesia
assírio & alvim
1993