domingo, 19 de janeiro de 2014

Conto as pedras...

Conto as pedras 
da calçada portuguesa, contos
de um país de arestas vivas a preto e branco

Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

De súbito...

De súbito um raio
ou um tigre que pressente 
próxima a monção.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Um grão...

Um grão de pimenta preta
no cérebro do pintor
cerca-o de uma paisagem exótica.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Tinha duas ameixoeiras

Tinha duas ameixoeiras 
no meu quintal
uma amarela 
e outra vermelha,
a mesma silhueta,
textura 
e pássaros,
a mesma distância da lua
e aroma,
outro sabor.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Fumo branco...

Fumo branco em três chaminés
o céu de chumbo e teus lábios de carmim 
a embaciar o espelho.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira



Poema pueril



Apanhar as pinhas
na cama doce da caruma
e no reflexo da urze
inspirar uma fragância
acesa de resina
e moldar com minhas mãos
a estranha e precária
escultura castanho claro
que devo sacrificar
ao fogo doméstico.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira




                                                         Foto de autor desconhecido

Encontrei o teu gancho...

Encontrei o teu gancho de madrepérola
agora que saí da tua vida
vou analisar com distância científica
o ADN do cabelo a que fiquei preso
única evidência que me resta.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2014

Carlos Vieira