sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O peso dos livros


Pensava que os livros não têm peso. Quero dizer, flutuam no entendimento.
Na memória. Ou melhor: equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.

Pensava que os livros são menos complexos do que nós. Mesmo quando
não temos linha, quando não temos palavra. Mesmo quando
não conseguimos respirar. Quando pensei nisso,
tive uma vaga noção de título.

E um hálito branco a querer ser página.


Filipa Leal

Kissing dead girls



“As she bends for a Kleenex in the dark, I am thinking of other girls: the girl I loved who fell in love with a lion--she lost her head over it--we just necked a lot; of the girl who fell in love with the tightrope, got addicted to getting high wired and nothing else was enough; all the beautiful, damaged women who have come through my life and I wonder what would have happened if I'd met them sooner, what they were like before they were so badly wounded. All this time I thought I'd been kissing, but maybe I'm always doing mouth-to-mouth resuscitation, kissing dead girls in hopes that the heart will start again. Where there's breath, I've heard, there's hope.”
― Daphne GottliebKissing Dead Girls
I Have Always Confused Desire With Apocalypse, by Daphne Gottlieb



Odeio...


Odeio 
estes versos taciturnos
a transbordar de estados de alma
prefiro aqueles que à cintura
do poema
apresentam o brilho cortante
das adagas.

Lisboa, 10 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Viagens XVIII



Aqui vou eu
e a minha máscara
tão próximos e tão desconhecidos.

Lisboa, 9 de Janeiro de 2014

Carlos Vieira

“Última chamada!”

“Última chamada!”
Oiço um nome
que não consigo repetir,
talvez um dia,
Deus,
tenha dificuldades
insuperáveis
em proferir
o meu nome
e eu ficarei cá na terra,
eternamente.

Lisboa, 10 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira



Do Titanic no écran

«A poesia é uma loucura de palavras»:

golfadas de água, pistons, caldeiras,

mar de silêncio, música de pianoforte,

escadaria, ascensores, golfadas

...de água, trajos de gala, icebergs,

mar de silêncio, amor, morse, foguetes

de luz, música de pianoforte, amor,

decotes, plumas, tules, icebergs,

pistons, camarotes, madeira envernizada,

tapeçarias, ascensores, morse, amor,

mar de silêncio, salva-vidas, escaleres,

escadas de corda, sino, apitos, foguetes

de luz, golfadas de água, escaleres, jorros,

mar de silêncio, morse, sino,

escaleres, amores mortos, morse,

morte, amor, morse – disse

um grande poeta meu contemporâneo.



Fiama Hasse Pais Brandão in Poemas com Cinema, pag. 78, Assírio & Alvim